Falar de NewJeans é sempre algo legal de se fazer para quem gosta de comentar sobre música, pois é um grupo que tenta (E consegue) fazer algo diferente dentro de uma indústria que parecia engessada em uma certa fórmula. Não necessariamente melhor ou mais inovador, mas algo que desperta a atenção e abre novas alternativas para se curtir um grupo de K-pop no cenário atual. Por isso é sempre bom aproveitar as oportunidades e comentar os lançamentos delas sempre que possível. Então, que tal fazer um grande review do 2º EP do grupo, “Get Up”? Afinal, curtir o álbum completo faz parte da proposta do NewJeans, então vamos fazer o que elas querem que a gente faça:

Artista: NewJeans
Álbum: 2nd EP “Get Up”
Lançamento: 21/07/2023
Gravadora: ADOR
Nota: 78/100
Não é muito difícil entender o conceito “por eras” que a Min Hee Jin está criando aqui. Se no 1º EP o NewJeans explorou muito do R&B/New Jack Swing para o grupo reviver a magia de um grupo de K-pop da virada do milênio, para o 2º EP o grupo constrói um projeto baseado nos estilos mais eletrônicos como UK garage e jersey club conversando entre si como se o NewJeans fosse um grupo alternativo dos becos do Reino Unido nos anos 2000, e quando começar uma nova era teremos mais uma mudança de sonoridade que se estenderá por mais uns singles do grupo. Obviamente tudo é mais fácil e adolescente aqui (Afinal, são adolescentes cantando isso), mas é difícil entregar um concept album baseado em uma sonoridade específica. No K-pop mesmo eu só consigo pensar no “Reboot” do Wonder Girls (Synthpop 80’s) e no “Soul Lady” da Yukika (City Pop) que são grandes e ambiciosos álbuns, então aplaudo a audácia do NewJeans em fazer algo assim se tornar parte da experiência de acompanhar o grupo.
A produção é, ao mesmo tempo, o ponto forte (Pela execução) e fraco (Pela duração). Vale ressaltar a criatividade e ousadia do pessoal responsável aqui, que aposta num estilo musical muitas vezes ligada a algo mais alternativo e obscuro e traz para o mainstream como uma grande novidade na cena. Funciona: Mais uma vez os sons, melodias, sintetizadores e direções parecem extremamente novos dentro de uma indústria que, por sua vez, já tinha criado um padrão ao emular a experiência que o 1º EP do NewJeans trouxe. Elas poderiam simplesmente mostrar como é que se faz, mas foram além e criaram uma nova alternativa para o K-pop transformar em algo padrão que nem fizeram com o debut delas. Não será surpreendente se os grupos de segundo escalão mais novos surgirem com variações de House music e UK Garage no futuro (Eu sei que o Billlie mesmo já deve ter uma demo pronta assim).
O ponto fraco é definitivamente a duração do EP, mas acho que ele fica ainda mais fraco para quem conhece “Somewhere Near Marseilles”, da Utada Hikaru. Vou tentar explicar melhor mas, para quem não conhece, ouçam:
“Somewhere Near Marseilles” é uma música do último álbum de Utada Hikaru, “BAD Mode”. A música tem 11:55 de duração, 15 SEGUNDOS A MENOS que o EP inteiro do NewJeans, e caminha por um nicho eletrônico e alternativo semelhante a onde o NewJeans quis atingir. Porém, quando eu ouço a música de Utada, a experiência é tão mais imersiva, complexa e desenvolvida que você não percebe que está ouvindo apenas 1 música de 12 minutos. É um trabalho mais completo com diferentes nuances, sintetizadores e emoções nos vocais que fazem essa música ser uma viagem colorida e prazerosa que parece durar para sempre, e em nenhum momento essa música fica cansativa pois cada minuto é um novo momento que entrega uma nova sensação com uma nova experiência, e não a toa essa é basicamente a música asiática mais aclamada do ano passado. Utada consegue chegar lá com 1 música. O NewJeans (meio que) não consegue com um EP.
Não sei se expliquei muito bem isso, mas sinto que o “Get Up” é um trabalho que poderia ser mais longo para não soar… incompleto. Consigo ver isso de duas maneiras: Se “Get Up” fosse uma música de 12 minutos, tenho certeza que os produtores experimentariam mais alternativas para a música ser tão interessante e rica, explorando diferentes formas, riffs e synths. Também, se as músicas fossem maiores com 1 minuto a mais, as mesmas poderiam explorar os pontos fortes com mais vontade e deixar cada faixa desse EP mais impactante e intrigante. Mas desse jeito, com músicas curtas e finais abruptos, a sensação que dá na maior parte do tempo é de que algo que poderia ser grande foi interrompido de alguma forma. Com exceção de “ETA” que é empolgante do primeiro ao último segundo, as músicas desse EP parecem ter um potencial que não foi utilizado da forma que devia.
“Get Up” é um ótimo EP com faixas bem legais, que desperta curiosidade com uma produção e estilo musical fora do habitual da indústria, e a construção de “experiência completa” que torna os álbuns do grupo únicos é sempre um plus na forma do NewJeans lançar seus trabalhos. Porém, talvez a necessidade de fazer algo mais comercial e direto com faixas mais curtas e rápidas acabou fazendo o “Get Up” ser um álbum menos sofisticado e elaborado do que poderia ser. Isso acaba sendo um detalhe que impacta na tal “experiência completa” do álbum, uma vez que ele não me prende tanto a atenção do jeito que o debut delas me prendeu, por exemplo.
Faixa a faixa
O “Get Up” começa com a faixa “New Jeans”, que tenta ao mesmo tempo ser uma intro e uma faixa completa. Ele introduz muito bem a atmosfera do álbum com um UK Garage mais suave e misterioso, com as meninas cantando de um jeito fantasioso intrigante, mas a música é cantada em praticamente toda a sua duração, o que não faz muito o estilo de uma intro comum. Um híbrido interessante, e como as músicas desse EP tem só 30 segundos a mais que “New Jeans”, essa “intro” funciona como “faixa completa” dentro do EP também. Depois temos “Super Shy”, que traz uma agilidade maior no instrumental que é mais colorido e, ao mesmo tempo, “tímido”. Eu gosto de “Super Shy”, é fácil de curtir e entrar na vibe mais simpática que a música propõe, mas a repetição que a faixa possui enche o saco em um certo momento. Eu perdoo pela produção que é ótima, mas parece que tiveram mais criatividade escrevendo “New Jeans” do que “Super Shy”.
Depois disso temos “ETA”. Se o resto do álbum parece ser “linear” demais sem grandes mudanças ou elementos surpreendentes, o “favela funk” (kkkkk não aguento que os gringos realmente usam esse termo para falar do funk carioca) inserido em “ETA” faz todo esse trabalho. A aparição da buzina é uma surpresa muito grata, e mesmo hoje depois de já ouvir 900 vezes ainda me choca que tiveram o culhão de botar isso para um girlgroup adolescente promover como a coisa mais jovem e quente do momento. E o pior é que funciona, é extremamente legal e energizante, tão descolado e inesperado que se torna extremamente divertido. É a única faixa que não sinto que precisava ter mais tempo de duração, pois cada momento em “ETA” é precioso. Um dos grandes destaques de 2023 e o meu single favorito do NewJeans até aqui.
A segunda metade do álbum sofre o mesmo problema da segunda metade do 1º EP do grupo, sendo bem menos colorido e expressivo que a primeira metade. “Cool With You” é uma faixa que gosto muito de ouvir sozinha mas, dentro do álbum, perde um pouco de brilho. O instrumental bem menos intenso é um charme a parte para a música, que me dá a sensação de conforto que gosto de ter ouvindo músicas assim, mas ela corta a vibe de um jeito esquisito vindo depois de “Super Shy” e “ETA”. Não sei se foi proposital ou não, mas particularmente não foi tão agradável assim. Depois temos a outro de “Cool With You”/interlude “Get Up”, que não tenho muito o que comentar. Tem quem defenda que a música merecia ser completa mas, honestamente, é tão curta que nem sei se vale pensar nisso. Por fim temos “ASAP”, que é a música mais ou menos do álbum. A única música que não despertou nenhuma sensação e foi um grande “meh”, sendo até dispensável. Poderia ter encerrado na outro mesmo.
Concluindo…
Min Hee Jin segue sendo a mente mais criativa do K-pop atual e “Get Up” é mais um projeto bem legal que faz o NewJeans ser um dos grupos mais interessantes dos últimos anos, mas merecia mais do que três sanfonadas antes de acabar o forró.
min heejin, a marlene mattos do K-pop
seu blogueiro hipster-sp
Fazendo meu papel para um site hipster-sp me contratar
Pelo menos falou sobre elas não inovarem do jeito que as fãs forçam e sobre a duração vergonhosa desse álbum, mas sinto que você pegou leve demais, deve ser sua fase medicada ou tá pegando leve porque a mais velha tem 18 anos e você não quer violar o Estatuto da Criança e do Adolescente, até porque com FmR você pegou super pesado.
Excelente album, só que eu tive que bloquear a musica “ASAP” por que não gosto, acredito que elas terão um terceiro EP e depois um full album.