ALBUM REVIEW: Ayumi Hamasaki – Remember You

Desde o lançamento do “M(A)DE IN JAPAN”, muita coisa mudou tanto na vida de Ayumi Hamasaki quanto no J-pop em geral. Para Ayu, 2 filhos, a audição mais deteriorada do que nunca e diversas turnês com um ritmo totalmente diferente de lançamentos, priorizando (acho) a sua saúde. No J-pop, o mercado de streaming finalmente começou a emplacar, o formato de singles mudou (Single físico agora só se tiver um motivo muito bom para lançar, basicamente), a onda Hallyu não só voltou a ter força como virou protagonista no Japão. 7 anos depois e com um J-pop praticamente repaginado, Ayumi Hamasaki está de volta com seu novo álbum “Remember You”, e a missão de mostrar para uma indústria quem é a clássica Ayu. Será que ela conseguiu?

Artista: Ayumi Hamasaki
Álbum:
Remember You
Lançamento: 25/01/2023
Gravadora: avex trax
Nota: 81/100

“Remember You” é um álbum muito bom, mas não é algo exatamente novo vindo da Ayu. Praticamente tudo que você ouvir nesse álbum acaba sendo facilmente referenciado pelo que a cantora já fez a rodo nos anos 2000, mas a gente pode dar um desconto levando em conta que é uma mulher surda que está indo para o DÉCIMO OITAVO ÁLBUM DE ESTÚDIO? Acho que podemos. Além disso, é o primeiro da Ayu em 7 anos, então deu tempo da mulher selecionar demos melhores, (mais ou menos) filtrar melhor o que entra em um álbum e selecionar aquilo que ela pode entregar de melhor como artista. A gente não conta que Ayu vai servir um pop industrial de girlgroup de K-pop ou um trap safadíssimo de maior gostosa do pedaço, mas eu posso contar com um pop/rock e EDM crocantes que me entretém ouvindo, e ela fez isso muito bem.

Um dos meus medos desse álbum é como a avex faria para fazer o “Remember You” funcionar como álbum e não como coletânea, pois metade do material já foi lançado como single e, com dois interlúdios e um remix, não teria muita coisa nova para ligar tudo. Mas até que eles fizeram bem “dividindo” o álbum em 3 atos: O ato dos pancadões, o ato das baladinhas, e o ato que parece mais encher linguiça porque é Ayumi Hamasaki e ela se recusa a lançar um álbum com menos de 40 minutos. As duas primeiras partes são ótimas e até a faixa 9 o álbum se sustenta com músicas bem legais, depois o álbum perde fôlego com músicas mais questionáveis dentro do que Ayu pode lançar.

No geral, “Remember You” é um álbum que resgata muito bem o que é a discografia da Ayumi Hamasaki. Não existe um conceito por trás do álbum nem é um projeto novo, moderno, alinhado com as tendências atuais. Até mesmo com esse atual revival do Y2K e gêneros populares dos anos 2000 as músicas do “Remember You” parecem deslocadas, mas acredito que a proposta é que, depois de 7 anos, é possível a gente lembrar de Ayumi Hamasaki com um bom projeto. “Remember You” não reposiciona Ayu no mainstream do J-pop, mas é um álbum que dá para deixar feliz qualquer homossexual que ainda acompanha a cantora.

Faixa a Faixa

O “primeiro do ato” do “Remember You” é de pancadões que vão desde o EDM até o rockish, mas com muita potência e agressividade mostrando o poder de Ayu como artista pop. O álbum começa com “Nonfiction”. que é uma delícia eletropop saída diretamente do álbum The Fame de Lady Gaga. A intro é meio longa demais, o que faz a música demorar para começar de vez, mas quando começa traz todo o poder, glamour e opulência que uma quarentona gostosona pode trazer em uma faixa pop. “(NOT) Remember You” segue o mesmo ritmo mas com a guitarra dando aquele tom rockish que é mais clássico da Ayu, fazendo ela ser uma faixa do NEXT LEVEL da própria Ayumi. É um começo de álbum bem forte e explosivo, com uma sonoridade familiar e até clássica para a cantora.

“Dreamed a Dream” vem como a primeira produção de Tetsuya Komuro para Ayu, e é notável isso por conta do instrumental totalmente off com o vocal da Ayu, mas aí é problema do TK que deveria estar preso a essa altura do campeonato para o bem de toda a nação. O chocante é que, apesar disso, a música funciona por elementos separados: O instrumental é uma das melhores produções do Tetsuya Komuro em anos e os vocais da Ayu são agressivos e interessantes para a adrenalina dessa faixa. Um pouco cansativa, mas me entretém bastante. “23rd Monster” traz a cota de pancadão rock para o álbum e o vocal da Ayu está bem diferente do habitual. Ainda esganiçado, mas mais grave e intenso, o que casou perfeitamente com a música. O instrumental não é novidade para quem acompanha a Ayu, e é ela cantando bem o que sabe fazer de melhor. Encerrando o ato de pancadões do álbum temos “Summer Again”, que é gloriosa por conta própria e a minha música favorita da Ayu desde “Return Road”. De todas as tendências que esse revival anos 2000 está ressuscitando, somente Ayumi Hamasaki teve a audácia de servir música TRANCE para seu público, e foi a melhor e mais corajosa decisão que ela tomou em anos de carreira.

“ray of truth” é o primeiro interlúdio do álbum, algo que Ayu não investia em muitos anos. É uma intro basicamente para anunciar que temos o “segundo ato” do ato: Baladas profundas e sentimentais com instrumentais mais orquestrados que mostram toda a vulnerabilidade da Ayu. Cumpre bem o seu papel, e para a nossa sorte esse ato tem baladas que não são (tão) cansativas por parte da cantora. “Remember you” e “Ohia no Ki” são exemplos mais 101, com instrumentos e progressões que aparecem em todo álbum dela. São baladas bonitas (Especialmente “Ohia no Ki” com a letra fofíssima) mas que acabam se perdendo nas outras baladas que ela já lançou. Já o cover de “Haru yo, koi” com todos os elementos e instrumentos folclóricos dão um charme e delicadeza a mais para esse baladão, e é a grande balada do álbum. Eu não preciso que Ayumi reinvente as baladas em toda santa música, mas que pelo menos traga algo diferente como ela fez em “Haru yo, koi” pois dá um frescor para o que ela já costuma cantar. Belíssima canção.

Fim do segundo ato, mais um interlúdio. “Taskinson” volta com outra tradição da Ayu: As interludes Task. O que são elas? Não faço a menor ideia, elas normalmente não conversam com o álbum e não introduzem nada para mim, mas por si só é uma fritação deliciosa que merecia ser uma faixa completa. A última leva de músicas do álbum também não faz muito sentido e meio que derruba o nível do álbum com umas escolhas, hum, duvidosas. “MASK”, por exemplo, é mais uma produção de Tetsuya Komuro que deixa bem na cara que é uma produção dele, mas diferente de “Dreamed a Dream” isso aqui está cheirando a mofo dos anos 90 que não deveria ser mexido. Muita barulheira em um instrumental caótico no mau sentido, que faz a música ser cansativa demais e os próprios vocais da Ayu não ajudam. De longe o single mais fraco do álbum.

“VIBEES” traz de volta todos os saudosistas da era (miss)understood com um pop/rock de atitude para uma grande gostosa servir atitude numa calça cintura baixa dos anos 2000, e embora eu goste de ouvir casualmente, não é tão legal quanto ouvir o próprio (miss). Parece muito algum descarte que Ayu casualmente achou na avex e decidiu encher o álbum, mas é o tipo de música que Ayu vai dar um jeito de funcionar ao vivo. O álbum segue com um aleatório remix de “Nonfiction” que eu achei pior que a original porque a melhor parte do remix é quando a Ayu não está cantando em cima. Se a intenção era mandar esse remix em um lançamento físico, que fosse b-side da própria “Nonfiction” em uma edição limitada física ou qualquer coisa do tipo, né? Finalizando o álbum temos “Just the way you are”, que é uma balada que não faz muito sentido ali depois de tanta farofada mas ela não queria encerrar o 3º álbum seguido com um remix, eu acho. É mais uma balada 101 da Ayu, mas essa é muito bem feita com o vocal da Ayu conversando muito bem com a beleza e sofisticação do instrumental, e aí a música vai crescendo e ficando grandiosa e Ayu vai junto e o negócio fica encantador.

Conclusão

A mulher praticamente surda conseguiu lançar o melhor álbum em mais de 10 anos de carreira. É a nossa Beethoven de vestidos mesmo.

4 comentários sobre “ALBUM REVIEW: Ayumi Hamasaki – Remember You

  1. Quem diria que, depois de tantos erros, a Ayuzão finalmente iria acertar com um álbum novo? E os singles no geral foram muito bem escolhidos também!

    Agora fica a esperança pra Koda Kumi seguir o exemplo dela e lançar um trabalho de qualidade como nos bons tempos da carreira dela (se bem que devo admitir que gosto dos EPs angeL + monsteR).

    • Mas “Heart” álbum que Koda Kumi lançou no ano passado,era bastante bom sim.
      Mas acho que as divas estão bem presas em sonoridades datadas,sabe? Não souberam se adaptar as épocas de hoje em dia,mais por culpa dos produtores que trabalham com elas. O TK em 2023 não cola,né?

  2. Achei o álbum bastante legal até,apesar de ter achado certas sonoridades datadas,mas né? Faz oq,os produtores que as divas trabalham são literalmente idosos que não sabem como o cenário atual da música funciona.
    Ayu saiu e voltou com o BTS famoso no planeta todo. Será que no off ela sente raiva pela Avex nunca ter mexido um dedo pra fazer ela ter seu momento Shakira,e acontecer mundialmente,enquanto 7 guris que eram fracassados,hoje em dia são o maior ato asiático globalmente?

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