Depois que o NewJeans mandou o seu funk para o K-pop em “ETA”, a Júlia me mandou um pix bem gostoso para comentar sobre a “irmã mais velha” desse lançamento: “Bucky Done Gun”, da rapper M.I.A. Com o Diplo na produção de um funk carioca com sample de um clássico daqui, M.I.A fez um gênero que, na época, era marginalizado e repleto de preconceito, ganhar os grandes veículos do país:
Não vivi o evento que foi “Bucky Done Gun” (Comecei ouvir música internacional mais para o final de 2005) mas, pelo que pesquisei, foi um sucesso no Brasil com a música sendo o primeiro funk a tocar em rádios comercialmente e sendo um fenômeno na MTV Brasil, sendo basicamente a música que apresentou a rapper para o Brasil. M.I.A pretendia gravar o clipe nas favelas do Rio de Janeiro mas, por problemas de agenda e orçamento, não foi possível fazer a gravação por aqui. A música contem sample de “Injeção”, da Deize Tigrona, o que anos depois se tornou uma espécie de “alívio cômico” depois de algumas declarações antivaxx que a M.I.A soltou no mundo.
A música em si é bem “gringos fazendo funk” mas de um jeito muito bom. Falta o charme e malemolência de um funk de verdade da Furacão 2000 mas é bem legal. A música ainda traz uma mensagem sobre revolução e sexualidade que foi impactante para a época e é muito bem executada e casa MUITO bem com os funks cariocas com mensagem social da época. A M.I.A conseguiu traduzir muito bem o que seria um funk daqui para lançar no mundo, e a produção clássica do instrumental faz a música ficar ainda mais legal. Ela pegou muito bem o espírito da coisa e não parece que ela está forçando a barra quanto algumas exportações de funk que a gente vê por aí.
Mas tem uma coisa que me incomoda aqui e não sei muito bem explicar. Acho que foi a Tati Quebra Barraco que falou uma vez que MC de verdade não fica de muito ensaio e aquece a voz com limão e vodka (Ou algo assim), e tem um negócio meio “ensaiado demais” nessa música que não clica comigo. Acho que se eu pensar desse jeito acho que acabo levando a sério demais uma música propositalmente desbocada e relaxada como essa, mas também acho que a música poderia ser MAIS desbocada e MAIS relaxada para ficar ainda MAIS legal. Ou então se a música fosse em português, porque é um idioma muito bom de ouvir num funk.
“Bucky Done Gun” funciona comigo mais ou menos como todas as músicas da M.I.A que eu conheço (Exceto “Bad Girls” que é um marco): Tem uma coisa fascinante que me hipnotiza ouvindo mas, pessoalmente falando, falta algo que faça querer ouvir sempre. De qualquer forma “Bucky Done Gun” é ótima do jeito que é, e não a toa foi eleita uma das 500 melhores músicas da década pela pitchfork: As mensagens na música eram fortes e progressistas, enquanto o batidão era uma novidade quente para o mundo.
Passando pra avisar que eu amo Bucky Done Gun e amei a review mas que a irmã mais velha mesmo de ETA é na verdade XR2 também da M.I.A., uma deep cut (muito boa) do segundo álbum dela.
Uma das diversas provas que o NewJeans não inventou nada, deviam ser chamadas de Jesus, porque só ressuscitam