Esperar demais para ter sua chance de brilhar sozinha as vezes pode valer a pena. Talvez nem tanto comercialmente, pois geralmente as empresas de K-pop normalmente lançam primeiro o destaque do grupo e grande aposta para uma carreira solo e, depois, vai dando álbum solo para quem eles só querem segurar e renovar contrato. Mas artisticamente falando, com mais experiência e maturidade, a vontade de querer mostrar algo, acima de tudo, grandioso, é um grande motor para dar uma grande primeira impressão nessa indústria. É nesse pique que a Seulgi debutou solo: Provavelmente não é a grande aposta da SM dentro do Red Velvet, mas é a gata que estava mais empenhada em mostrar que pode, sozinha, ser gigante:

Artista: Seulgi
Álbum: 28 Reasons – The 1st mini album
Lançamento: 04/10/2022
Gravadora: SM Entertainment
Nota: 86/100
Em uma indústria que vem valorizando cada vez mais trabalhos versáteis com diversos gêneros musicais e estilos que mostrem um grande alcance dos artistas em um único tiro, “28 Reasons” surge como um álbum mais, digamos, “monocromático”. É um EP redondo e mais centrado como um projeto pop/R&B sofisticado e elegante, sem mudanças muito bruscas de estilo musical. Não é um álbum de uma única nota e tem suas variações, mas é um álbum que cria uma única grande experiência ao invés de várias pequenas experiências em músicas isoladamente. Penso em álbuns como o “SOUL LADY” da Yukika, o “REBOOT” do Wonder Girls e, mais recentemente (E em menor escala), o debut do NewJeans, onde existiram conceitos com muito esforço e planejamento não só visual como sonoro, criando álbuns de qualidade ímpar e conceitualmente impressionantes. São trabalhos não só com ideias muito boas, mas também com uma dedicação em fazer com que eles funcionem em qualquer situação, e eu vejo isso nesse EP da Seulgi.
Acredito que dava para a SM ter expandido esse debut da Seulgi em um full album, pois é notável que um EP deixou a coisa toda mais compacta. A SM poderia ter explorado mais a atmosfera tensa e enigmática que a title “28 Reasons” tem com mais duas ou 3 faixas pesadas nesse estilo, e finalizar com “Crown” foi tão boa que me deixou querendo mais umas 2 músicas da Seulgi pois não queria que isso acabasse. O ponto é que dava para a SM ter trabalhado um álbum mais completo, pois temos muitas ideias legais que combinaram muito bem com a Seulgi e poderiam ser ampliados para um pacote maior. Um EP de 20 minutos parece muito pouco para o potencial que o “28 Reasons” tem.
Pelas músicas, “28 Reasons” é um EP fortíssimo. A primeira metade brilha numa title track incrível, mas é na 2ª metade do álbum com 3 músicas icônicas e potentes que o “28 Reasons” se destaca como, possivelmente, um dos melhores álbuns solo de estreia dentro da SM. Obviamente não conheço todos pois a SM faz muita questão de debutar solo metade dos seus contratados em grupos e eu que não vou ficar ouvindo qualquer coitado de lá que vai morrer só com 1 EP, mas a Seulgi mostrou muita força com esse debut, sendo de longe um dos trabalhos solo mais expressivos da SM. A dedicação que todos os responsáveis tiveram em fazer do “28 Reasons” um trabalho grandioso rendeu, sem dúvidas, um grande trunfo para a Seulgi.
Faixa a Faixa
“28 Reasons” começa com a title track, que já foi descrita por mim como um maravilhoso Dark Pop/R&B cheio de tensão e mistério que combinou perfeitamente com os vocais da Seulgi. Concordo com quem fala que faltou uma parte para ser o ápice da música (Na verdade eu acho que até tem com aquela segunda metade da bridge com a nota alta e a Seulgi acapella, só que não funciona), mas isso não mata o brilho de “28 Reasons”. É uma música que tem como objetivo mostrar toda a persona da Seulgi sem deixar de ser uma música emblemática e interessante, e para mim ela acertou com louvor. “Dead Man Runnin'” mantém essa tensão com um ritmo menos controlado e vocais mais altos e emotivos, servindo uma intensidade diferente mas igualmente empolgante. Funcionaria muito bem como uma sequência de “Monster” que a Seulgi lançou com a Irene há uns anos (Ou poderia ser o debut da unit, já que “Monster” é horrível e poderia ser apagada da história). Não é a faixa que mais lembro desse EP, mas serve um ótimo som.
As duas próximas faixas entregam o momento mais leve do EP, com instrumentais mais suaves e um ritmo mais cadenciado. “Bad Boy Sad Girl” é um R&B mais padrão, daqueles que geralmente só enchem linguiça em álbum de K-pop mas que funciona bem nesse caso por combinar tanto com os vocais da Seulgi quanto com o rap do BE’O. Não deixa de ser a faixa mais desinteressante do EP, mas também não é uma faixa dispensável. Já “Anywhere But Home” é o número disco que te dá 19 viagens diferentes pela efervescência dos sintetizadores e a harmonia mais livre, sem perder a elegância e magia que conduz o EP aqui. Facilita muito o fato de gostar muito dessas releituras disco, mas “Anywhere But Home” acerta muito na execução e se torna memorável, sendo uma das minhas favoritas do EP.
A parte final do EP foi o que me chocou, pois esperava dois fillerzões padrão de álbum de K-pop e recebi duas pérolas da música coreana. O destaque fica, obviamente, para “Los Angeles”. que é o momento fritação em um EDM safadíssimo e energizante. Os versos não entregam o ouro e aquecem de uma forma sensual e envolvente o ouvinte para a lacração que o drop no refrão serve. Seulgi com uma b-side resolveu acabar com a carreira de Teddy Park e isso foi fascinante, e muito por conta do refrão não derrubar a faixa, mas sim ser o auge dela. É para fritar na rave, para se drogar na boate, mamar desconhecidos no banheirão… “Los Angeles” definitivamente abraça todo o público gay de balada. “Crown” encerra o álbum com as mesmas ideias principais de “28 Reasons”, conectando o início ao fim do álbum e formando um loop de qualidade para o EP. Muito dessa música me lembra a Sia naquela época que ela era alguém no mainstream lá nos tempos do “1000 forms of fear” e “This Is Acting”, e claro que isso é um elogio pois hoje em dia qualquer um faz Sia melhor que a própria Sia atualmente. Um encerramento muito acima da média, que coroa um álbum praticamente impecável.
Conclusão
“28 Reasons” não é só o single mais interessante envolvendo o Red Velvet em anos, como o EP é a coisa mais legal de alguém do grupo desde o “Perfect Velvet”. Todo o esforço da Seulgi é visto e apreciado com músicas incríveis e um conceito cativante que é fácil de curtir. Que esse EP seja valorizado como uma das melhores coisas do K-pop esse ano, pois se o single vai ficar devendo charts, pelo menos o álbum merece ganhar aclamação.
Esse ep está fantástico. A seulgi sempre foi minha favorita do red velvet. A mais versátil do grupo. Lembro que na era monster (música meio me mas conceito maravilhoso), pensei que o conceito combinava demais com ela. Agora vendo o solo dela, posso dizer que ela nasceu pra fazer esse estilo. Fico feliz que a sm fez um trabalho tão consistente pra gata.
digo e repito: SEULGI ARTISTA